Amazon e Google sofrem para emplacar na indústria de games

Custos, público exigente e concorrência são obstáculos para gigantes
02/02/2021
POR
Carlos Silva
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Desenvolver jogos não é brincadeira, ainda mais quando se quer competir no segmento dos games de grande orçamento. Com produções que chegam facilmente na casa dos milhões de dólares e consumidores exigentes, a vida não é nada fácil para os grandes estúdios tradicionais – e menos ainda para novos entrantes, inclusive gigantes como Google e Amazon, que vêm sentindo na pele as dificuldades de se estabelecer neste mercado.

Uma reportagem do Kotaku revelou que o Google fechou os dois estúdios internos que desenvolviam jogos para sua plataforma de cloud gaming, o Google Stadia, informação confirmada pela empresa pouco depois. No Twitter, o executivo Phil Harrison explicou que o foco do Stadia em 2021 é ajudar os desenvolvedores e publishers a trazer seus games diretamente para os jogadores.

Ou seja, o Stadia continua, mas apenas como plataforma para jogos de outras produtoras e não com conteúdo próprio – o que costuma ser um dos principais diferenciais de toda plataforma de jogos bem sucedida.

Dois estúdios foram fechados e 150 desenvolvedores perderam os empregos. Jade Raymond, diretora criativa do Stadia e veterana da indústria de games, deixou o Google. Antes de assumir o cargo, Raymond fez carreira na EA e na Ubisoft.

Nenhum jogo desenvolvido pelos estúdios do Google Stadia chegou a ser lançado. Pelo que dizem os desenvolvedores na reportagem do Kotaku, o maior problema enfrentado era o custo de produção. “Pense na Amazon, mas sem recursos“, disse um produtor.

Por falar na Amazon, recentemente tivemos uma noção dos recursos do estúdio de Jeff Bezos. Segundo reportagem da Bloomberg, a empresa gasta cerca de US$ 500 milhões por ano na divisão de games e ainda não emplacou nenhum jogo de sucesso. A Amazon Game Studio, porém, e mesmo não emplacando um grande sucesso, cada jogo lançado é um milestone importante para uma produtora.

Apesar do fiasco de Crucible, jogo de tiro gratuito que teve o lançamento eclipsado por Valorant, da Riot e acabou sendo retirado do ar por falta de jogadores, a Amazon aposta em dois jogos de RPG online: o original New World, e outro ambientado no universo de O Senhor dos Anéis, e que deve chegar junto da série da Amazon Prime Video, em algum momento de 2022.

RPG online New World é principal aposta da Amazon (New World/Divulgação)

Conteúdo e acessibilidade

É interessante observar que ambas as gigantes da tecnologia já abocanham porções consideráveis do mercado de games. O Google Play é a maior loja de jogos mobile do mundo e o YouTube ainda é a principal plataforma de vídeo utilizada por criadores de conteúdo e empresas na hora de divulgar seus jogos, só para citar dois exemplos.

Do lado da Amazon, além das vendas de jogos na loja online e da plataforma de live streaming Twitch, há toda uma série de iniciativas no Prime Gaming, parte do serviço Amazon Prime que oferece aos assinantes jogos gratuitos para PC, itens em diversos jogos e outros benefícios.

Porém, não importa o quanto a plataforma seja inovadora, todas as empresas da área sabem que é importante ter conteúdo de qualidade, exclusivo e original. A Amazon sabe bem disso, afinal, é a mesma situação no mercado de streaming de vídeo, onde compete com a Netflix e Disney+. É por isso que a Amazon gasta US$ 500 milhões por ano na produção de jogos, mesmo sem ter emplacada nenhum sucesso ainda. Esse é o custo de chegar tarde em uma indústria multimilionária.

Otávio Moulin, Senior Content Manager do Prime Gaming, fala sobre a importância do conteúdo para as plataformas de jogos no vídeo abaixo, parte da série Profissão Gamer. Assista:

Resta saber se, do lado do Google, o Stadia vai vingar apenas como plataforma, sem oferecer conteúdo que o jogador não encontra em outro lugar, baseando sua premissa de valor no acesso mais fácil ao conteúdo. O usuário do Stadia não precisa investir em um console de nova geração ou em um PC gamer para curtir seus jogos. A promessa do instant gaming é sensacional, mas a base de usuários sempre vai depender da disponibilidade de internet de alta qualidade em mais mercados e de um modelo de negócios vantajoso para o consumidor.

Em um mercado em que a Epic dá jogos de graça todas as semanas e o Game Pass dá acesso a centenas de games por até US$ 1 por mês, os preços praticados pelo Stadia não são nada competitivos: é preciso pagar a assinatura do serviço e comprar as licenças dos jogos individualmente, pelo mesmo preço que se pagaria por uma cópia física ou digital. Convencer o consumidor de que ele está adquirindo algo que justifica esse preço é o maior obstáculo para o Google aumentar a base instalada do Stadia.

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