Imagine que você está em uma caverna. Ela é escura, silenciosa e, como não poderia deixar de ser, perigosa. Após um deslizamento, você acabou se perdendo de seus colegas (“amigos” talvez seja exagero): uma elfa-da-floresta druida, um humano guerreiro e uma anã barbara. Agora você ouve um rugido vindo do lugar para onde você se encaminha. Você não enxerga nada, mas sabe que há algo ali. O que você faz?
O que significa RPG?
Esse pequeno parágrafo ilustra o que pode ser um Role-Playing Game (RPG), ou em tradução livre, um jogo de desempenhar papéis, pois nele um grupo de pessoas se reúnem, criam personagens fictícios a partir de um livro de regras e passam a agir como se fossem os personagens. Eles passam a efetivamente desempenhar papéis, como um ator em um teatro, mas de forma mais ou menos livre – ou seja, sem um roteiro pré-estabelecido, mas seguindo certas regras pré-determinadas (BAUMGARTNER, 2017; 2016), porém flexíveis (JUUL, 2011). Existem vários tipos de RPG (DORMANS, 2006), mas aqui falaremos especificamente daquele jogado com papel, caneta, jogadores e, eventualmente, um livro de regras, cuja função é orientar a interpretação e interação.
Se o roteiro não é pré-estabelecido e as regras são flexíveis, como se joga isto? Um dos jogadores – o Dungeon Master, ou só O Mestre – serve como narrador da história. Ele geralmente prepara a aventura que será jogada com alguns dias – ou semanas – antes da partida e, então, passa a narrá-la para os outros jogadores, que vão reagindo às situações propostas.
Como funciona uma partida de RPG?
Os jogadores podem fazer o que quiserem, supostamente. Mas há limites, impostos pelo Mestre, e geralmente suportado pelo livro de regras. Na história do primeiro parágrafo, o jogador poderia dizer “eu disparo um raio laser pelos meus olhos em direção ao rugido…”, o que seria possível se existe consenso entre o Mestre e os jogadores de tal habilidade, suportado pelo livro de regras do jogo, o que faz deste game uma espécie de narrativa colaborativa. Algumas vezes, as atividades descritas devem ser testadas para verificar seu sucesso, especialmente quando aquela atividade envolve interação com o cenário e seus personagens. Mantendo o exemplo, este mesmo jogador poderia continuar com “…e acerto a criatura que deu o rugido bem na sua testa”. Nesse caso, com o surgimento da intenção de interação, entra o Mestre do jogo para corrigi-lo: “ok, você tenta fazer isto”. O resultado de uma ação de interação pode ser determinada através do rolamento de dados, geralmente os característicos D20, ou dados de 20 lados. O Mestre determina um valor o qual o jogador deve tirar acima ou abaixo dele com o rolar do dado e, caso o jogador tenha êxito no rolamento, é bem sucedido.
Estes jogos são inspirados sobretudo nos wargames – jogos em que os jogadores controlavam exércitos inteiros, geralmente com muitas miniaturas representando os soldados, em grandes maquetes – Gary Gigax e Dave Anerson criaram o primeiro RPG ainda nos anos 1970, o famoso Dungeons and Dragons (D&D), com a temática fantasia medieval (EWALT, 2016).
A popularidade do RPG com Dungeons and Dragons
Com o passar do tempo – e o aumento da popularidade do D&D– passaram a surgir outros sistemas de RPG, com regras e cenários diferentes. Entre eles, surgiram Call Of Cthulhu, de terror, inspirado nas obras de H.P Lovecraft (PETERSIN, 1981) e G.U.R.P.S, acrônimo de Generic and Universal Role-Playing System (JACKSON, 1986), que, como o nome sugere, procurava quebrar a então tradicional relação entre regras e tema, oferecendo algo genérico o suficiente para que cada grupo de jogadores pudesse decidir ambientar seu jogo como bem entendessem.
Para finalizar, é evidente que, com o avanço tecnológico e com o aumento da popularidade, o RPG foi sendo adaptado e levado para outras mídias. Dormans (2006), afirma que hoje há mais três tipos de RPG: o LARP, o digital e offline, como Skyrim e o digital e online, como os MMORPGs.
Referências e Leituras Complementares:
BAUMGARTNER, L. P.. Jogo e Vivência: um método para analisar a interação entre o jogador e o jogo. In: Intercom, 2017, Curitiba. Intercom Junior, 2017. v. 1.
BAUMGARTNER, L. P.; CAMPOS JUNIOR, W. R. . O Role-Playing Game como um exemplo de círculo mágico. In: Comunicon, 2016, São Paulo. 2° Encontro de GTs de Graduação, 2016.
BAUMGARTNER, L. P.. Em defesa dos RPG’s como jogos. In: Intercom, 2016, São Paulo. Intercom Junior, 2016.
DORMANS, Joris. On the Role of the Die: A brief ludologic study of pen-and-paper roleplaying games and their rules. The international journal of computer game research: volume 6, issue 1, 2006
EWALT, David M. Dados e Homens. A história de Dungeons & Dragons e seus jogadores. Rio de Janeiro: Editora Recorde, 2016
JUUL, Jesper. Half-Real: Video Games Between Real Rules and Fictional Worlds. Cambridge: MIT Press, 2011.
Mini-CV
Lucas Baumgartner é mestre em Comunicação e Práticas de Consumo e bacharel em Publicidade e propaganda pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-SP). Lattes: http://lattes.cnpq.br/3238575774858345.
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