O que são as microtransações dentro dos jogos digitais?

Conheça as várias formas de monetização dentro dos games.
O que são microtransações em jogos digitais
25/05/2021
POR
Carlos Silva
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O que você vai ver neste artigo:

Um dos termos mais presentes quando se fala em jogos digitais são as microtransações. Responsáveis em grande parte pelos faturamentos elevados dos jogos atuais, principalmente no segmento dos games gratuitos, as microtransações estão presentes nos modelos de monetização da maioria dos jogos, e embora seu uso tenha se popularizado, em alguns casos, são aplicadas de formas que não agradam aos consumidores.

No podcast abaixo, a consultoria GoGamers fala sobre as microtransações e seu impacto tanto no desenvolvimento de jogos quanto na experiência dos jogadores. Confira e entenda o que são microtransações dentro dos jogos digitais.

O que são microtransações

De forma resumida, microtransações são todas as compras feitas pelo jogador dentro de um jogo digital.

Por exemplo, quando um jogador quer comprar uma nova skin, ou seja, um traje ou aparência para seu personagem, ou uma nova arma, ele pode pagar um preço pequeno na loja interna do jogo (a chamada loja in-game), como R$ 5 ou R$ 20, e ganhar acesso aquele conteúdo para usar no jogo, ele está realizando uma microtransação.

O termo vem da ideia de que é uma compra de valor pequeno, embora se aplique também às transações de valores mais elevados feitas dentro dos jogos, como a compra de moedas in-game para adquirir os itens. Em Fortnite ou Call of Duty o jogador compra V-Bucks ou COD Points, respectivamente, em pacotes que podem chegar a mais de R$ 100, por exemplo.

Microtransações em Call of Duty: Warzone.
Pacote com vários itens na loja in-game de Call of Duty (Activision/Reprodução)

Muitos jogos digitais que oferecem compras de itens via microtransações também oferecem opções para adquirir o mesmo item através da progressão natural no jogo, mais demorada. A microtransação funciona como um atalho para quem não quer esperar, ou não tem tanto tempo disponível para jogar e acumular recursos para adquirir o item desejado.

Nos jogos gratuitos, chamados de free-to-play, o jogador pode fazer o download do game sem pagar nada, mas para jogar níveis extras, ter mais opções de skins ou itens, ou habilitar certos recursos do jogo, é preciso pagar por eles. Os preços variam, mas hoje, as microtransações estão entre os componentes mais rentáveis dos jogos – e a indústria experimenta com uma grande diversidade de modelos de negócios em que este elemento está incluso de uma forma ou de outra.

A recepção do público gamer ao modelo de microtransações é variada e depende do quanto aquela transação ou o item adquirido através dela parecem honestos ou não. A oferta de itens cosméticos, que permitem personalizar os avatares dos jogadores e seus equipamentos (como skins, mochilas, cores especiais para armas ou pinturas para veículos) são bem recebidas e muito procuradas pelos jogadores, assim como os chamados passes de batalha ou passes de temporada, por não interferirem no desenrolar das partidas.

Microtransações em Diablo III
Diablo III tinha um sistema de leilões com microtransações para comprar itens de outros jogadores; não deu nada certo (Blizzard/Reprodução)

A oferta de itens que deixam o jogador mais forte do que quem não comprar aquele item, dando uma vantagem no jogo para quem investir dinheiro – e deixando quem não pode ou não quer gastar em situação desigual – é visto de forma bastante negativa e o jogo logo se torna conhecido como “pay-to-win” (literalmente, “pague para vencer”) e corre o risco de ser abandonado por muitos jogadores.

Jogos multiplayer supostamente devem envolver disputas para ver quem é o melhor, quem é o mais habilidoso, e não quem pode gastar mais comprando os melhores equipamentos.

Tipos de microtransações

Toda compra efetuada dentro de um jogo digital é uma microtransação. Existem alguns tipos de microtransações que são mais frequentes e populares. Confira:

DLC

DLC é um conteúdo adquirido em formato digital, geralmente dentro do jogo.
Wrath of the Druids é um DLC que expande a aventura de Assassin’s Creed Valhalla para as remotas terras da Irlanda (Ubisoft/Divulgação)

A sigla DLC é bastante usada pelos jogadores e produtores de jogos digitais e significa “Downloadable Content”, ou “conteúdo extra por download”. Se entende como DLC todo conteúdo adicional que não está presente no jogo base, mas que pode ser adquirido online e baixado para o jogo.

Mais comumente, os jogadores se referem ao termo DLC quando falam de expansões que trazem novos conteúdos, como fases extras e/ou novos personagens para o jogo, ampliando a experiência e engajando os usuários novamente com um jogo que, muitas vezes, já foi terminado e seria “encostado na prateleira”.

Moedas in-game

Loja de FIFA Points, moeda in-game dos games da franquia FIFA (EA/Reprodução)

Tanto jogos pagos quanto gratuitos trabalham com suas próprias moedas in-game, muitas vezes com mais de uma moeda: uma adquirida com a progressão dentro do jogo e outra comprada na loja do game, com dinheiro real, em pacotes que podem custar R$ 5, R$ 10 ou chegar na casa das centenas de Reais.

Estas moedas são utilizadas pelos jogadores para comprar itens, skins, passes de temporada e todo tipo de coisa. É comum que o jogo permita escolher qual moeda usar, mas não dividir o valor entre as duas.

Passes de Temporada

Símbolo máximo dos chamados GAAS (“games as a service”, ou “jogos como serviço” em português), os passes de temporada ou passes de batalha trazem uma série de recompensas para o jogador, desbloqueadas conforme ele progride no jogo, mas com um tempo limitado, de dois ou três meses, para ser completado.

O passe de temporada tem uma cultura em ser temático para aquele período e relacionado ao “tema da temporada” do jogo. Em Fortnite, os jogadores tiveram uma temporada inteira dedicada aos super-herói da Marvel, enquanto outra tinha como tema “caçadores de recompensas”, e trouxe todo tipo de crossover. Em Call of Duty, a temporada atual é inspirada na década de 1980, com a Guerra Fria e heróis de ação dos filmes da época, como Rambo e John McClane, disponíveis para compra na loja do jogo.

Além do prazo de validade, uma outra característica importante dos passes de temporada é que entre os itens desbloqueáveis, o jogador também recebe moedas in-game. Ao completar a progressão no passe, ele deve receber de volta o total de moedas que gastou ou um pouco mais. Isso não só aumenta a percepção de valor do passe de temporada, como permite ao jogador adquirir o passe da temporada seguinte sem gastar dinheiro, mantendo-o engajado com aquele game por muito mais tempo.

Itens in-game

Enquanto a venda de itens como armas mais fortes e outros bônus são mal vistos pelos jogadores, os itens cosméticos são amplamente aceitos e desejados.

Microtransações na loja in-game de Fortnite.
Personagens da Marvel, como os membros da X-Force, são os mais procurados por jogadores de Fortnite (Epic/Reprodução)

Os tipos de itens in-game que podem ser adquiridos são tão variados quanto os gêneros de jogos existentes, e vão desde skins para armas e novos estilos de cabelo, bônus de experiência para acelerar o progresso no jogo, mapas que revelam a localização de tesouros ou novas buzinas para veículos, até personagens exclusivos, como os vários heróis da Marvel e da DC em Fortnite, o craque Cristiano Ronaldo no Free Fire e outros.

Outros itens in-game bastante populares são os pets e as montarias, principalmente nos jogos do gênero MMORPG. São criaturas que acompanham o jogador ou que servem como meio de transporte mais rápido, mas também existem em várias formas e algumas são muito cobiçadas pela raridade, distribuídas em eventos por tempo limitado.

Tempo adicional

Jogo de corrida Real Racing 3, para celulares.
Jogo mobile de corrida Real Racing 3 utiliza o sistema de limite de tempo para jogar (EA/Divulgação)

Muitos jogos para celular tem um sistema de “tempo limitado” para jogar. O game é gratuito, mas o jogador só pode jogar por algumas horas por dia (ou minutos por sessão) ou precisa esperar horas para que o jogo recarregue uma determinada função.

É um recurso comum em jogos de gerenciamento ou que envolvem algum tipo de administração e coleta de recursos, como os já clássicos Farmville, mas também é visto em títulos de outros gêneros: a série Real Racing, por exemplo, limita o combustível disponível para disputar corridas – isso nada mais é do que um limitador de tempo de jogo. Quer correr mais? “Abasteça o carro”, ou seja, compre tempo extra para jogar.

Essas barreiras podem ser contornadas esperando o tempo para jogar de novo ou adquirindo tempo de jogo adicional na loja do game.

Jogos com microtransações absurdas

Se as compras de itens in-game hoje é vista como OK e, dependendo da ação, tende a engajar a comunidade com o game, em muitos casos elas beiram o absurdo, seja por forçar a barra e desequilibrar o jogo, ou por quebrar a imersão de quem joga e só quer aproveitar a experiências.

Grand Theft Auto V

Você pode ter tanto dinheiro quanto quiser (e puder pagar) em GTA V Online (Rockstar/Divulgação)

Jogadores em busca de satisfação instantânea podem se esbaldar em GTA V Online. O popular modo multiplayer de Grand Theft Auto V permite a compra de seus créditos, os GTA$, com dinheiro real.

O jogo é projetado para que não seja preciso fazer isso: o jogador pode acumular créditos para comprar roupas, carros, armas, propriedades, apenas jogando. Mas nada impede que comprem as moedas, entrem em um site (fictício, dentro do jogo) e adquiram os veículos e propriedades que desejam.

GTA V e GTA Online tem economias separadas e não é possível transferir os créditos acumulados de um modo de jogo para outro. Não é possível comprar créditos para usar na campanha de GTA V – mas é possível especular na bolsa de valores fictícia do jogo para juntar uma boa grana.

FIFA Ultimate Team

O modo Ultimate Team é o principal componente da franquia FIFA há alguns anos e é responsável por boa parte do faturamento dos games de futebol.

Com um sistema que combina figurinhas colecionáveis com estratégia, gerenciamento e a repetição de tarefas, a modalidade já foi alvo de várias polêmicas, sendo um dos jogos mais discutidos por agências reguladoras quando o assunto são as ‘loot boxes’.

Recentemente, um documento interno da EA Sports foi divulgado na mídia especializada, mostrando que todas as mecânicas de FIFA são projetadas atualmente para incentivar o jogador a comprar pacotes de cartas do FIFA Ultimate Team.

Dragon Age: Origins

Cena de Dragon Age: Origins em que o jogo oferece uma microtransação.
Uma linha de diálogo nada usual em Dragon Age: Origins (BioWare/Reprodução)

O RPG de ação Dragon Age: Origins é um jogo excelente, produzido pela BioWare (a mesma desenvolvedora de Mass Effect). O game tem um momento bastante infame, porém, por conta das microtransações: no acampamento que serve de base para o jogador, alguns personagens oferecem missões bastante atraentes que, na verdade, só podem ser iniciadas após a compra de uma determinada DLC.

E o pior, o personagem diz isso ao jogador, durante a conversa. “Para cumprir essa missão, você precisa visitar a loja do jogo e comprar a expansão DLC” não é exatamente o que se espera ouvir de um elfo procurando ajuda para salvar um reino de fantasia medieval.

Microtransações e jogos de azar

Outro aspecto das microtransações que é muito controverso e pode afastar jogadores é quando a compra de itens consiste em uma espécie de aposta, que pode acabar associando o game aos jogos de azar. É o conceito básico por trás das infames “loot boxes”.

Loot boxes em Star Wars: Battlefront II (EA/Reprodução)

Ao adquirir uma loot box, o jogador paga um valor pequeno por um conjunto aleatório de itens, sem saber exatamente o que vai vir naquela compra. Caixas mais caras tem maiores chances de render itens melhores e mais raros, mas também podem render itens comuns e mesmo itens que o jogador já possui em seu inventário. E o jogador não tem controle sobre quais itens vai receber.

O processo de abertura da loot box muitas vezes é acompanhado de efeitos especiais chamativos, que tornam a experiência empolgante. Aliado ao baixo preço de cada microtransação, isso estimula o jogador a comprar mais caixas e continuar tentando a sorte.

Alguns jogos chegaram a ser desenvolvidos inteiramente para fazer com que os jogadores comprassem muitas loot boxes, o que resultou em perda de popularidade para as franquias.

Foi o caso de Star Wars: Battlefront II, por exemplo. O jogo oferecia muitos pacotes de loot boxes e também tinha personagens especiais, como Darth Vader, que só podiam ser adquiridos através de microtransações. A comunidade recebeu o jogo muito mal, ao ponto da publisher, a EA Games, precisar remover o sistema de loot boxes e microtransações do jogo por um período, para que fosse refeito de maneira mais equilibrada e justa com os jogadores, e então, reintroduzido.

Em 2017, a Comissão de Jogos da Bélgica descreveu as loot boxes como uma forma de jogos de azar para menores, e pediu que fossem banidas da União Europeia.

A prática de vencer loot boxes em jogos atraiu a atenção de muitas agências reguladoras ao redor do mundo. Na China, discute-se a obrigatoriedade das produtoras listarem as chances percentuais de cada item aparecer ao abrir uma dessas caixas ou pacote de itens, por exemplo.

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