A Microsoft anunciou na segunda-feira (22) que vai encerrar as atividades da Mixer, sua plataforma de live streaming de games, lar de famosos como Ninja e shroud, assim com “s” minúsculo mesmo. A plataforma sairá do ar em um mês, no dia 22 de julho.
A fabricante do Xbox fechou uma parceria com o Facebook Gaming e, a partir desta semana, os streamers parceiros da empresa estão em processo de migração para a plataforma de lives de Mark Zuckerberg.
Ou seja, a Microsoft jogou a toalha para a Mixer? Sim e não.
Por que o Mixer, streaming da Microsoft, acabou?
A plataforma de streaming nunca conseguiu competir em números de usuários, de forma viável, com YouTube e Twitch, que pertencem aos rivais Google e Amazon, respectivamente. Mesmo a aquisição de talentos como Ninja, que trouxe milhões de seus seguidores para a Mixer, não foi o bastante para fazer decolar o sonho de um ecossistema próprio de jogos, criação de conteúdo e comunidade sob a marca Xbox.
Porém, a parceria com o Facebook Gaming tem um outro componente bem mais importante do que as lives de jogos: o plano envolve integrar o xCloud, serviço de games por streaming em desenvolvimento na Microsoft, com a rede social, de forma similar ao que o Stadia, do Google, faz com o YouTube e outros serviços da companhia.
Não se pode pensar nos movimentos entre Facebook, Mixer e Microsoft apenas como mais uma plataforma de streaming que fecha as portas, mas como uma mudança de foco no negócio.
O Facebook entra cada vez mais na indústria dos games. A Microsoft levará seu novo produto para uma base de milhões de usuários. Os profissionais da Mixer voltarão ao que sabem fazer melhor: desenvolver tecnologia de ponta para transmissões ao vivo e interação com usuários.
O que foi o Mixer, streaming da Microsoft?
Lançada em 2016, a Beam era uma start-up que tentava uma abordagem diferente de outras plataformas de live streaming, com foco em desenvolver tecnologias que aumentassem a interação entre streamer, o sujeito na tela, e usuários, o público que acompanhava suas peripécias.
Para isso, ela apostou no chamado protocolo FTL, sigla para o pomposo nome de “Faster Than Light“, ou, em português, “Mais Rápido que a Luz“. Essa tecnologia proprietária fazia com que as lives na plataforma não tivessem quase nenhuma latência, aquele atraso entre o que é feito pelo streamer e o que é visto pelo público.
Diferenciais do Mixer
Adquirida pela Microsoft em outubro de 2016, a Beam se tornou parte da divisão Xbox e no ano seguinte, rebatizada como Mixer. A plataforma foi integrada ao Windows 10 e ao Xbox One em 2017. Com isso, passou a ser possível fazer e assistir lives pelo console, sem precisar baixar aplicativos ou da necessidade de um computador.
Além do FTL, a Mixer trouxe várias inovações, como a possibilidade do streamer co-hospedar até 3 outros três canais ao vivo em sua transmissão, interatividade dentro de jogos – o público podia ativar efeitos em certos jogos, facilitando ou dificultando a vida do streamer – e até a venda de games e DLCs sem que o usuário precisasse sair da live. Bastava clicar na tela do streamer parceiro e adquirir o conteúdo.
Porém, como tantas outras plataformas iniciantes, a barreira de entrada foi o maior obstáculo para a Mixer: Twitch e YouTube concentram a imensa maioria do público das lives de games.
Investimento em streamers profissionais
A Microsoft tentou contornar isso com a aquisição de grandes talentos: em agosto de 2019, Tyler “Ninja” Blevins, streamer de Fortnite que se tornou ele próprio um fenômeno mundial, com mais de 14 milhões de seguidores na Twitch assinou com a Mixer.
A vinda de Ninja e, depois, de Michael ‘shroud’ Grzesiek, outro streamer de sucesso da Twitch, deu um gás na base de usuários da Mixer, sem dúvida. Mas não foi o bastante e certamente o valor pago não ajudou nos resultados.
Ninja se tornou o streamer com mais seguidores na Mixer, mas nunca alcançou a mesma base de fãs que tinha na Twitch. O que ele conseguiu foi atrair mais streamers para a plataforma, que ganhou visibilidade por conta do popular influenciador. Nos três meses após sua mudança de casa, a Mixer registrou um aumento de 188% no total de horas transmitidas, segundo relatório da agência Newzoo e do Streamlabs.
Com o fim das atividades da Mixer, Ninja e shroud não aceitaram a proposta de migrar para o Facebook Gaming. A Microsoft precisou pagar as recisões contratuais de ambos: segundo o insider Rod Breslau, os valores seriam de US$ 30 milhões para Ninja, US$ 10 milhões para shroud. Ambos estão livres para voltar para a Twitch.
Uma questão de foco
A Mixer tem um histórico de sucesso no desenvolvimento de tecnologias de interação, mas não na captação de público. O que eu penso, e aí vamos para a minha análise, é o seguinte: a Microsoft não precisa construir do zero sua própria base de consumidores, investir milhões para desenvolver todo o ecossistema.
É preciso entender qual é o foco do negócio e é aí que muitas aventuras no ramo do streaming fracassam. Acredite, eu já fiz parte de uma delas.
O que a Microsoft precisa é alcançar uma base de consumidores para o xCloud, o serviço de jogos por streaming. O Facebook pode oferecer isso. Sua plataforma de lives, Facebook Gaming, vem crescendo a passos largos, mas da mesma forma, precisa encontrar um sistema de monetização que vá além de anúncios e share de doações e assinaturas.
Com o alcance do Facebook Gaming e a tecnologia desenvolvida pela Mixer, a Microsoft poderá colocar os jogos do xCloud nas mãos de muito mais jogadores, em um ritmo mais acelerado.
Ambas as empresas buscam ajustar o foco de seus negócios e competem contra os mesmos adversários: Amazon e Google. A união entre Microsoft e Facebook pode fazer frente aos outros gigantes? Descobriremos nos próximos capítulos.