Crossover: O que é e como funciona dentro do entretenimento?

A conexão entre filmes, música, esportes e games.
15/02/2024
POR
Thayná Soares
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O que você vai ver neste artigo:

Ora, ora… Então quer dizer que você tem interesse em saber mais sobre o universo mágico do Crossover…

Bom, se chegou neste artigo, é óbvio que o assunto te deixa com uma pulga atrás da orelha. Pesquisar sobre ele no Google é receita pronta para cair em temas paralelos, alguns dos quais fogem do conceito encontrado no entretenimento.

E se está no blog da Go Gamers, pode ter certeza que é de entretenimento que iremos falar. Principalmente no mundo dos jogos.

Antes de tirar suas dúvidas, no entanto, quero introduzi-las (e até diminuí-las) com um storytelling breve. Nada melhor do que entender um assunto novo através de exemplos práticos.

Quanto mais geek, melhor:

“Aqui é o Homem de Ferro, falando diretamente de Gotham City. A taxa de crime é quase tão assustadora quanto o senso de estilo do protetor desse lugar, um tal de Batman sei lá das quantas.

Acho que nem os Vingadores originais conseguiriam resolver as duas coisas ao mesmo tempo. Ainda bem que vim sozinho. Só não sei exatamente como voltar.

Espero que eles tenham um Doutor Estranho para chamar de seu.”

Homem de Ferro? Gotham City? Não, você não leu errado: a historieta que montei especialmente para este artigo já começa ilustrando o significado por trás do Crossover, uma forma de storytelling que ganhou força nos últimos anos.

Mas ela não é tão recente quanto você imagina. Vem que eu te explico do começo.

O que é crossover?

Literalmente falando, crossover significa cruzamento, traduzido da língua inglesa. Seu significado nos moldes do storytelling não está muito distante. “Cruzar” ideias, enredos ou até mesmo personagens resulta em algo semelhante ao exemplo dado na história acima.

O crossover mais famoso que vimos em filmes recentes foi o Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa, onde os Peter Parker’s do Tobey Maguire e do Andrew Garfield se encontraram com o Peter do Tom Holland em um cruzamento de universos.

Como o MCU, universo cinematográfico da Marvel Comics, está passando por um arco de multiverso, cenas como essa serão cada vez mais comuns.

Se você é fã, sabe que o mesmo irá acontecer em Deadpool 3, como introduzido na cena pós-créditos de The Marvels, com o cruzamento do MCU atual com o X-Men da 21st Century Fox, então adquirida pela Walt Disney Company.

Veja bem, por mais que eu tenha criado a história do Homem de Ferro em Gotham City, ambos pertencentes a editoras diferentes, crossovers também ocorrem dentro de um mesmo universo em comum.

O importante aqui é haver esse cruzamento — um encontro de ideias, enredos e/ou personagens que estão dividindo a mesma cena pela primeira vez, ou que raramente a dividem por serem de núcleos diferentes.

Nas HQs, onde é mais comum ver esses núcleos diferentes colidirem dentro da mesma editora, já tivemos um encontro entre Marvel e DC, algo que ainda não tivemos nos filmes.

A Almagam Comics foi uma publicação colaborativa entre as duas gigantes dos quadrinhos norte americanos, mas diferentemente de um crossover, nela tivemos personagens novos sendo criados a partir da mescla de dois ou mais personagens pré-existentes.

Isso é pra você entender ainda mais o que faz um crossover e o que não faz. Um ouriço azul encanador não necessariamente aponta para um crossover entre Sonic e Mario.

Mas você logo vai saber o que faz um crossover no mundo dos jogos.

Crossover nos games

Onde existe um universo, existe a possibilidade de rolar um crossover. E se tem uma coisa que não falta no mundo dos jogos é lore expansivo.

E quando falamos de crossover, não necessariamente precisamos nos ater a um tipo de mídia só. Já vimos o 3D encontrar o 2D em filmes como Space Jam, onde atores reais contracenaram com os personagens Looney Tunes, animação clássica da Warner Bros.

Quantas vezes encontramos personagens de filmes entrando em eventos especiais de jogos? A Barbie, por exemplo, entrou no Candy Crush durante um período de promoção do filme.

Sim, personagens e enredos de diversos filmes podem aparecer em games sem necessariamente estarem conectados, afinal, crossovers também envolvem diferentes universos.

Só que diferentes universos de uma mesma publicadora/desenvolvedora também podem se encontrar, como é o caso da Nintendo e seu universo compartilhado.

Aliás, podemos até parar de usar a palavra universo e começar a englobar os envolvidos em um termo que vem se popularizando cada vez mais: multiverso.

Ele funciona tão bem nos filmes que é de se esperar o mesmo sucesso no meio dos videogames. Fan service é tudo de bom, além de ser tudo o que o gamer moderno quer.

É exatamente por isso que o primeiro exemplo que vamos destrinchar neste artigo não poderia ser outro:

Fortnite: Tudo em todo lugar ao mesmo tempo

Marvel, DC Comics, Alien, Marshmallo e até God of War. O número de crossovers que esse jogo já teve é tão grande que ultrapassa as limitações do audiovisual.

Personagens de filmes, HQs, outros jogos e até personalidades do mundo da música já cruzaram os campos desse battle royale com skins exclusivas e eventos enormes. O jogo mais popular do gênero tem potencial de sobra para collabs.

Potencial esse que chama atenção de outras gigantes, como a própria Disney, que ao investir mais de 10 bilhões de dólares na Epic Games, acabou garantindo uma parceria que promete desenvolver novos jogos, um universo completo de entretenimento e muitas tie-ins com Fortnite.

Isso significa que ainda vamos ver muitos personagens e histórias clássicas da Disney invadirem os campos de batalha, mostrando que a era do multiverso vai muito além da Marvel Studios.

Super Smash Bros: O multiverso da Nintendo

Bom, já falamos bastante sobre a colisão de diferentes franquias em um mesmo universo. Hora de falar do multiverso existente dentro de uma mesma empresa.

Fãs de Mario, Zelda, Kirby, Pokémon, entre outros, podem ver seus personagens favoritos juntos dentro do Super Smash Bros, jogo de ação e luta que coloca os clássicos da Nintendo uns contra os outros.

Esse crossover é pra quem quer colocar um ponto final naquelas discussões sobre qual personagem é o mais forte. Jogadores podem tirar suas próprias conclusões (ou apenas se divertir com essa junção) no aglomerado nintendista, onde não há limites entre um universo e outro.

Não são só as grandes empresas cinematográficas ou as grandes editoras de gibis que investem em colocar seus diferentes núcleos em um lugar só. Esse exemplo da Nintendo mostra que o mesmo funciona – e muito – no meio dos jogos digitais.

Clássicos ou não, alguns personagens brilham ainda mais quando estão juntos. Além de reforçar a potência da desenvolvedora, é claro.

Basquete e Futebol de um jeito diferente

Sabemos que existem vários jogos digitais destinados a esportes da vida real, como o EA Sports FC (antigo Fifa), a franquia do NBA que atualmente está no NBA 2k24, entre outros.

Sabemos, também, que jogos como Free Fire, PUBG e o próprio Fortnite transformam camisas de time e grandes ligas em skins dentro do jogo. A publicidade in-game existe, mas o crossover vai muito além da presença dos uniformes.

Lionel Messi, maior jogador de futebol da atualidade, já marcou presença com seu próprio avatar no PUBG Mobile, incluindo participação em vídeos promocionais para a collab que saiu durante a Copa do Mundo.

O mesmo aconteceu na parceria Neymar & Call of Duty e Cristiano Ronaldo & Free Fire. Esse cruzamento dos campos da realidade com os campos de batalha tem dado tão certo que não para por aí.

Outros esportes também têm se juntado ao âmbito digital.

Em 2021, Lebron James, o igualmente maior jogador de basquete da atualidade, ganhou um avatar jogável no Fortnite na Série Ícones. 

São esses tipos de collab, parcerias e afins que tornam os crossovers tão interessantes – e rentáveis – para as partes envolvidas. Assim, a junção entretenimento + esporte continua se mostrando bastante lucrativa… e divertida, principalmente para os fãs de ambos os lados.

Músicos, artistas e o novo espaço de celebridades

Anitta e Alok no Free Fire, Marshmallo no Fortnite, Blackpink no PUBG Mobile, e muito, muito mais. A presença da música no audiovisual vai muito além do backstage e dos consagrados MVs.

Além da participação de personalidades famosas e artistas em skins e avatares, temos também a possibilidade de shows e eventos dentro dos jogos.

Ariana Grande, BTS e Travis Scott são apenas alguns dos nomes que já se apresentaram para multidões virtuais no Fortnite, mostrando que a ideia de um metaverso segue firme e forte.

Com a popularidade crescente de eventos dentro do jogo, não é de se surpreender que alguns se tornem musicais. Esse tipo de crossover cria a junção perfeita do entretenimento do game com a diversão de um show de música em tempo real.

Espaço, tem. Artistas de sobra, também. O jeito é acompanhar as mil e uma collabs que saem diariamente e esperar qual vai ser a próxima novidade a balançar os palcos digitais do mundo dos jogos.

Indo além dos games e se consolidando como plataforma de entretenimento

A conclusão que tiramos do potencial que os crossovers trazem para videogames é que muitos acabam se tornando espaços plurais que vão além do jogo em si.

E se um espaço proporciona tantos eventos diferentes, ele pode ser considerado uma plataforma de entretenimento – um espaço que não se atém apenas à sua proposta original, como é o caso do Fortnite, que cruza os limites da arena de combate para oferecer uma espécie de metaverso.

Aliás, podemos até dizer que muitos jogos digitais bebem da água do metaverso e vice e versa. A única diferença é que alguns, como o Fortnite, sabem explorar essa pluralidade e oferecer diferentes tipos de entretenimento em uma tacada só.

Ações de crossover expandem os limites naturais aos quais um filme, série, história em quadrinho ou jogo estão acostumados. O potencial verdadeiro dessa expansão mora no investimento que determinada empresa está disposta a fazer.

São tantas as possibilidades já vistas neste artigo que ficamos até zonzos de imaginar outras, não é mesmo? Mas o multiverso é justamente sobre isso:

Não há limites, apenas oportunidades.

Gamificação e Crossovers

Aqueles que já conhecem o game design entendem que as oportunidades mencionadas acima também se estendem para jornadas gamificadas.

Em outras palavras, crossovers podem ter presenças estratégicas que vão além do fan service. Estratégias essas que oferecem experiências dinâmicas na busca por aquele item e/ou skin de determinada collab.

Algumas são mais simples e direto ao pote: imagine uma situação em que jogadores de X jogo podem obter um item especial do filme da Barbie, por exemplo, ao adquiri-lo na loja.

Outros criam trilhas que conectamos às estratégias de gamificação, onde várias atividades precisam ser completadas para que uma respectiva recompensa possa ser desbloqueada.

A jornada gamificada por itens in-game

Assistir vídeos, completar missões, interagir nas redes sociais e responder a pesquisas são apenas algumas das táticas que já são feitas por jogos no geral.

A gamificação de todo esse processo nada mais é do que fazer com que ele passe a sensação de fazer parte do game. Um crossover bem feito já chama a atenção por si só, mas é preciso integrá-lo de forma a conquistar o público jogador ao mantê-lo fiel ao próprio jogo.

É por isso que eventos especiais chamam tanto a atenção. Neles, os players são convidados a adentrar uma determinada área e/ou lobby temático, interagir com as atividades nela presente e obter itens especiais, sejam eles temporários ou não.

Muitas collabs dentro do crossover limitam-se apenas a itens, sem necessariamente alterar o ambiente in-game. Isso não as impede de traçar uma jornada gamificada até a obtenção de um item, que por si só já é especial por ser diferente do habitual.

E por trazer um universo novo dentro de um universo já conhecido.

Engajamento e retenção de jogadores por meio dos crossovers

Um dos pedidos mais realizados em comunidades gamers é por atualizações para que um jogo não caia na mesmice.

Eventos, adição de skins e/ou personagens, diálogos inéditos e quests novas são bastante comuns em atualizações de jogos independentemente do gênero, isso sem falar nas DLCs, que geralmente englobam os itens já citados.

Mas já que você chegou até aqui neste artigo, provavelmente sabe que o crossover também entra em cada uma das táticas mencionadas no parágrafo acima.

O fan service definitivamente move montanhas.

Game Marketing como novo modelo de negócios 

Um jogo que conhece os gostos do seu público vai saber quais as melhores collabs para reter sua base.

Sim, até porque não basta trazer alguém famoso, ou um outro universo pop, para dentro de um game cuja persona não consome determinados gêneros. E não estamos falando apenas de rinhas de comunidade, até porque existem muitos fãs da Marvel e da DC que adorariam ver os Vingadores e a Liga da Justiça juntos.

Aqui, as métricas mais importantes para um crossover de sucesso são o mapeamento de persona e o planejamento de conteúdo.

A busca por engajamento é trabalhada nas redes sociais, onde conversas com a comunidade constróem o hype que todo crossover merece (e precisa) ter. Outra coisa que também pode acontecer e que é acompanhada pelo Game Marketing são pesquisas de base.

A Go Gamers, enquanto consultoria, é um exemplo onde utiliza-se a expertise já obtida pela criação da Pesquisa Game Brasil para estudar públicos diferentes, procurando visualizar que tipo de crossover rende resultados positivos.

Parcerias estratégicas podem trazer benefícios tanto para o jogo em si quanto para o personagem/universo/personalidade incluído na collab.

Resumindo, depois de tudo aprendido até aqui, colocar em prática exige análise, compreensão e sabedoria na execução.

Saber que existem oportunidades é ótimo, mas é necessário saber aproveitá-las.

Crossovers com marcas e influenciadores

Uma coisa que essas pesquisas de persona costumam mostrar é seu hábito de consumo.

Através dos resultados obtidos, muitas parcerias têm se consolidado mercado afora onde marcas tradicionais entram no âmbito digital e se popularizam entre os jogadores.

Alguns exemplos são a Heinz e sua ação em battle royales como CoD e PUBG, o banco Bradesco com um mapa interativo no Fortnite, e o Duolingo dando uma pausa nos sequestros para invadir o metaverso do Roblox.

É claro que o crossover não precisa se limitar ao universo in-game, mas estamos tão acostumados com brinquedos especiais de Mc Donald’s e bolachas temáticas da Bauducco que fica difícil chamá-las de crossover.

O mesmo, e é claro que não estou falando de bolachas, acontece com influenciadores, que saem das telas das redes sociais para marcar presença no mundo dos jogos.

Jogador, streamer e influenciador, Netenho ganhou as próprias skins nas arenas de combate do PUBG, levando sua marca para dentro do game.

É comum vermos collabs que criem skins, avatares e itens em troca da publicidade que os influenciadores criam ao transmitirem suas gameplays para toda uma base. Além de passar uma ideia de reciprocidade, ainda aproxima o jogo ainda mais da comunidade que acompanha seus principais influencers.

Se você possui a edição completa da PGB, então sabe o quão populares e essenciais esses influenciadores são para toda uma base gamer.

Taí mais um crossover que traz muitas vantagens.

Os crossovers na cultura pop

Por fim, revivendo os últimos anos onde o multiverso se mostrou mais vivo do que nunca, encerramos o artigo falando sobre a relevância do crossover no meio geek.

A busca insaciável do entretenimento por novidade inevitavelmente calha no potencial da mistura de tudo um pouco. Juntar queridinhos do público é uma ótima receita para hype em dose dupla (e por que não tripla?), onde os ganhos divididos não precisam acabar em um encontro só.

No cinema, aguardamos a próxima leva de filmes que vão dos heróis de HQ aos monstros do terror clássico. Nos jogos, novas collabs estão sempre saindo para atualizar a comunidade com eventos e skins exclusivas, sejam elas com artistas, marcas ou outros jogos.

Na música, o crossover é ainda mais inevitável. É de praxe que músicos de determinados gêneros cruzem estilos de gêneros diversos, como jazz e rock, pop e hip-hop, folk e country, entre outros.

Em outras palavras, sempre estivemos na era do crossover. O termo ter se popularizado ainda mais nos últimos anos só mostra que surfar no hype significa aproveitar oportunidades.

E nós estaremos acompanhando tudo bem de perto. 😉

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